À medida que o mundo busca soluções para combater as mudanças climáticas, a compensação de carbono ganhou atenção significativa. No entanto, a eficácia e as implicações éticas da compensação de carbono são debatidas, com alguns argumentando que constitui greenwashing. Acreditamos que empresas e indivíduos devem tomar uma decisão informada ao considerar a compensação de carbono como uma opção. Abaixo avaliamos o que deve ser levado em consideração para avaliar seu impacto.
Entendendo as Compensações de Carbono
As compensações de carbono são uma ferramenta usada por indivíduos e organizações para compensar suas emissões de gases de efeito estufa (GEEs), através do investimento em projetos e iniciativas ambientais. Esses projetos se concentram na redução ou remoção de uma quantidade equivalente de CO2 da atmosfera para equilibrar as emissões. Alguns exemplos incluem iniciativas de energia renovável, esforços de reflorestamento ou metano capturado de aterros sanitários.
Em outras palavras, os projetos de compensação de carbono permitem que indivíduos e empresas continuem a emitir GEEs, equilibrando suas emissões de gases poluentes, independentemente de onde estejam.
Para garantir sua credibilidade e eficácia, várias diretrizes regem o processo de compensação:
Verificação Independente: Os projetos devem passar por auditorias independentes para verificar suas alegações de redução de emissões e garantir transparência.
Sem Contagem Dupla: A contagem dupla ocorre quando um crédito de carbono é reivindicado por mais de uma entidade. Os créditos de carbono não devem ser contados mais de uma vez para evitar inflar as reivindicações de redução de emissões, pois isso superestimaria o impacto que realmente está ocorrendo.
Adicionalidade: Indivíduos e empresas que oferecem créditos de carbono devem demonstrar que o projeto que estão apoiando não aconteceria sem o apoio financeiro proveniente das compras de compensação de carbono. Se houver adicionalidade, os recursos podem ir para projetos ambientais que de outra forma não teriam dinheiro suficiente para existir e, por meio dessa demanda, a compensação pode incentivar o desenvolvimento de iniciativas de redução de emissões em áreas que estavam subvalorizadas.
Permanência: As iniciativas de compensação devem levar a um sequestro de carbono duradouro ou a reduções de emissões. Em outras palavras, o carbono sequestrado não deve ser devolvido à atmosfera.
Quais são as consequências de as empresas não seguirem as diretrizes?
Não é incomum ver projetos de compensação de carbono que carecem de uma ou mais das diretrizes necessárias. Por exemplo, quando uma verificação independente foi realizada em veículos da Volkswagen, descobriu-se que a Volkswagen instalou um software em seus veículos a diesel para enganar os testes de emissões, fazendo parecer que os carros atendiam aos padrões ambientais quando não atendiam. Auditorias independentes também podem ter problemas de qualidade. Por exemplo, em um estudo feito pela Compensate em Abril de 2022, concluiu-se que 90% das compensações certificadas pelo Gold Standard e outras empresas terceirizadas apresentavam problemas substanciais. Estes incluíam não compensar tanto quanto reivindicado inicialmente, não ser permanente, ter efeitos colaterais negativos nas comunidades ou ecossistemas locais e algumas combinações dos pontos acima.
Os créditos voluntários de carbono também apresentam um problema porque, como operam de forma voluntária, não há uma única autoridade ou padrão que rastreie e verifique todas as transações de crédito de carbono. Como resultado, alguns projetos de compensação voluntária podem vender seus créditos de carbono para vários compradores, resultando em dupla contagem. A falta de regras claras e mecanismos de contabilidade padronizados em certos projetos levou a incertezas sobre o impacto real dessas compensações e a potencial duplicação de créditos de carbono.
A adicionalidade tem suas próprias dificuldades. Um estudo da Comissão Europeia realizado em 2016 descobriu que 85% dos projetos examinados provavelmente não produziriam reduções de emissões reais, mensuráveis e adicionais. Se não houver adicionalidade, as reduções de emissão reivindicadas por esses projetos podem não ser genuínas, pois teriam ocorrido naturalmente ou por meio de regulamentos ou práticas existentes. Ao dar uma falsa sensação de responsabilidade ambiental, as empresas continuarão a praticar ou aumentar suas atividades de alta emissão e, consequentemente, aumentarão as emissões totais de GEE.
Desastres naturais também representam ameaças para alguns projetos. No caso de projetos de reflorestamento, desastres naturais podem resultar na liberação do carbono de volta à atmosfera, o que significa que qualquer benefício alcançado seria revertido. Para projetos como fazendas solares e eólicas, embora os benefícios futuros sejam interrompidos até que sejam reconstruídos, os benefícios passados não são afetados e, portanto, ainda contam.
As iniciativas de compensação de carbono são suficientes se forem feitas 100% corretamente?
É uma resposta simples. As compensações de carbono não devem ser usadas como uma demonstração de ação direta para ser verde. Elas devem ser usadas como um complemento às iniciativas internas de redução de emissões. Podemos dizer com segurança que, na maioria dos casos, a simples compra de créditos de carbono não será suficiente para compensar as emissões. Além disso, o objetivo principal deve ser reduzir as emissões e não simplesmente equilibrar as emissões que geramos. Tornar-se zero líquido é ótimo, mas reverter as emissões é ainda melhor.
Além disso, os créditos de carbono podem dar uma falsa sensação de sustentabilidade tanto para a empresa compradora dos créditos quanto para os clientes dessa empresa. As empresas podem acreditar que, por estarem compensando suas emissões, não precisam mudar suas atividades e processos de negócios. Os clientes podem acreditar que a empresa da qual estão comprando é sustentável, quando na realidade não são. Em suma, isso pode prejudicar a ação coletiva e políticas mais robustas, como a tributação do carbono.
A compensação de carbono é greenwashing?
O greenwashing ocorre quando as empresas usam táticas de marketing enganosas para dar a aparência de serem ecologicamente corretas, sem realmente tomar medidas significativas para reduzir seu impacto ambiental. Conforme discutido acima, algumas empresas podem usar a compra de créditos de carbono como forma de estabelecer suas credenciais verdes, enquanto continuam a agir de forma prejudicial para com o meio ambiente. Isso pode levar ao equívoco de que suas emissões são adequadamente compensadas, reduzindo assim a urgência de implementar estratégias de redução de emissões mais substanciais. Como resultado, o impacto geral da compensação de carbono pode ser limitado e a necessidade crítica de uma ação climática abrangente pode ser prejudicada. Isso significa que a compensação de carbono pode ser greenwashing em alguns casos, mas não em todos.
Conclusão
A compensação de carbono apresenta um caminho potencial para que indivíduos e empresas contribuam para a luta contra as mudanças climáticas através do apoio à projetos de redução de emissões. No entanto, sua eficácia como solução autônoma é questionada. As empresas devem ver as compensações de carbono como uma ferramenta complementar para apoiar iniciativas internas de redução, em vez de um substituto para reduções genuínas de emissões. O objetivo final deve ser priorizar a ação direta na redução das pegadas de carbono e na transição para práticas mais sustentáveis. A compensação de carbono, quando implementada de forma responsável, transparente e aderente às diretrizes estabelecidas, pode desempenhar um papel positivo no esforço mais amplo de combate às mudanças climáticas. No entanto, deve ser integrado a uma estratégia climática abrangente que inclua um forte compromisso com a redução de emissões e o avanço da sustentabilidade em várias frentes. Cortar as emissões na fonte e depois compensar o restante é a melhor maneira de reduzir nossa pegada de carbono e fornecer os maiores benefícios ambientais. Ao adotar uma abordagem bem informada e equilibrada, podemos lutar por um futuro mais verde e sustentável para as próximas gerações.